terça-feira, 8 de novembro de 2011

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A tua cidade. Esperava ver uma cidade a teus olhos. andar pelas íngremes ruas, encontrar os velhos largos e conhecer as velhas casas. Trouxeste-me para esta velha cidade onde se diz que ulisses aportou outrora. uma cidade cheia de luz e belas calçadas, uma cidade que não sinto como minha. como aquela velha e granítica onde outrora havia vivido. dizem que é uma cidade cinzenta, mas para mim, esse cinzento significava casa. esta nova casa esperei que fosses tu. chamam casa, dizem, onde o coração pertence. esperava dar-te o meu enquanto me levavas aos jardins, a ver o rio e os grandes monumentos onde os antigos se edificaram. falas-me de desejo, de amor e relações. falas-me também de vergonha, preconceito e gentes. o meu lugar não é o teu, nunca foi. para mim, nunca foi isso que esteve em causa. imaginei mostrar-te a minha casa, o meu coração; por entre teatro e dança, entre pintura exótica e grandes batalhas. mostraria-te a minha florença renascentista, onde a beleza proliferava.
a beleza, a meu ver, reassume-se aos teus olhos, á tua barba delineada e ao sorriso jocoso. ao teu corpo de homem e ao teu cu peludo. o desejo. para mim, sempre girou tudo à volta dele. és o meu desejo agora. é o teu corpo que esperava ver à noite, e a tua voz ouvir de manhã. és tu que quero dentro de mim e é no teu peito levemente peludo que me quero deleitar. formam-se imagens do teu corpo enroscado no meu que não me deixam adormecer. o teu cheiro a Homem tomando-me, a minha língua passando pela tua axila e descendo até ao teu cu que me faz extasiar. são os teus pés e os teus beijos agressivos que me fazem à noite vir-me só na cama. chamar-te-ei amante, talvez daqui a algum tempo, talvez nunca. Chamar-te-ei amante quando te libertares e não me criticares. porque há cedências, mas nunca, outra identidade. aceitação. falas-me em bloqueios e vergonha, falas-me e falaste-me de muita coisa, que não compreendo. em querer, proteger, em mudar, aceitar, assumir, esconder e mostrar. são palavras, apenas palavras que saem da tua boca. mas eu não posso querer pelos dois sozinho. são apenas palavras.
é à luz da manhã, que as coisas se tornam claras e o desejo se desvanece. e vou descobrindo o que achei ser a tua cidade sozinho. mas é à noite, quando o sono tarda em chegar, e imagens do teu corpo me invadem. acredito, te libertares e me tomares como casa. fizeste com que a casa ruísse, e apesar do desejo, precisas de te encontrar. e, não será o meu coração ou a minha vontade de te querer que o fará. vou subindo e descendo ruas, olhando para o mapa e apanhando velhos eléctricos. descobrindo o que será também a minha cidade. talvez um dia, ta mostre a meus olhos.