domingo, 6 de maio de 2012

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ainda guardo na carteira a foto que um dia me deste em tua casa, naquele fim-de-semana que passamos apenas os dois. aquela fotografia que quase te obriguei a me dares para poder andar sempre com ela. outro dia estava à procura de uns papeis e encontrei-a por acaso. quando acho que desapareceste da minha memória, encontro a tua fotografia perdida entre talões, com a mesma cara séria que esconde o sorriso mais belo. o sorriso que me fez apaixonar-me e ao mesmo tempo partir-me o coração. sempre te disse que foste o melhor e o pior de tudo, e agora passado algum tempo sem se quer de ti saber, tenho a certeza do mesmo. houveram alturas em que acreditei em ti. nas promessas, nos sonhos, nas mudanças e nas ilusões. tinhas razão quando me dizias que não passava de um miudo, tinhas toda a razão. um miudo cego de paixão, quando isso não deveria acontecer, pelo teu e pelo meu historial, que fosse. começaste como um capricho, uma teimosia minha de querer foder mais um, um que por toda a tua história seria complicado e seria uma grande conquista na vasta lista delas. por todos os motivos, eras um capricho. com o tempo, tornaste-te aquele que me fez ver tudo de uma prespectiva muito diferente, aquele amei, que amo. partiste-me o coração, deixaste um vazio que não sei como preencher. fui para a cama com homens do passado, tentei os do futuro, sai à noite, droguei-me, dancei, engatei, passei horas a trabalhar, a escrever, a limpar a casa, a planear viagens, sei lá. estou deitado na cama, a rever fotos tuas. preciso que precises de mim. sinto falta que me abraces a dormir, que me agarres, me olhes nos olhos e digas que sou o teu miudo. preciso de voltar a acreditar em ti. não sei como me deixei levar, não sei como acreditei em ti, como fiz planos, como me deixei levar. andré, sei que não acreditas, mas eu fiz planos, eu quis uma vida a dois, eu amei-te e amo-te, como não amei ninguém. não é doentio o amor? é doentio comprar um desodorizante igual ao teu para poder sentir o teu cheiro? é doentio fechar os olhos e imaginar-te a comeres-me de quatro e a fazer-me gemer? é doentio começar a chorar compulsivamente do nada? é tudo tão doentio tudo isto andré não é? o mais engraçado, o mais irónico de isto tudo é que foste tu que sempre duvidaste do que eventualmente poderia sentir, e foste tu que tão rápidamente deixaste de me amar, e tudo se tornou fácil e volátil, quando tudo sempre foi tão complicado. como sempre te disse, fui uma virgula, na tua longa vida imaginada. um entretanto que te fez sair da monotonia, que te deu alguma tesão e vontade de mudares as coisas, mas essa vontade passou e tu continuarás igual. até ao próximo miudo. fui aquilo que tu odiavas que eu chamasse, um erro de casting. não te guardo rancor, ou ódio, porque escolhi sempre seguir em frente, quando me dizias que eras fraco, cobarde, mimado, e que a dignidade já não era muita. talvez sinta pena, só pena. lamento andré, és a coisa que se calhar mais lamento até hoje. mas se eu estivesse no teu lugar, lamentaria muito mais. porque não sou eu que esta casado, e tem um marido em casa. eu não passo de um miudo livre e caprichoso.

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