segunda-feira, 8 de junho de 2009

041

"Deitados nos lençóis, com as pernas entrelaçadas. Pelo com pelo. Boca com peito. Unha com a frisura do dedo. Cada erecção; cada fugacidade gemida, tremida e até evitada; cada movimento circular efémero, e o nojo repulsivo que se segue – trouxeram-te para os meus braços; espremido. Não falo de orgasmos, mas do destino. Nos lírios brancos vejo que fomos fornicados um para o outro. Amo-o com cada nascer e descansar do sol. Cada curva sua, cada sorrir, cada pestanejar prolongado, cada badalhoquice, me faziam sorrir, com o resto dos sinais em câmara lenta. Os pássaros cruzavam os céus e as migalhas na rua levantavam voo, mas era tudo em câmara lenta. Sorria esboçadamente quando pensava na pirueta que era o nosso regresso. Braço com costas. Olho com nariz. Cabelos com mãos. Abraço eterno. Cálice de volúpia. Amo-o aqui e no erguer do solo desta cinzenta cidade. Está tudo capaz de se destruir. Casas inclinam-se, flores murcham e as andorinhas já partem. Mas naquela nossa manhã, quando tivermos o nosso barco, duas andorinhas vão poisar na nossa proa. 5000 milhas terão passado. E o cheiro será de martini e cerveja indeferidas. Estômago com intestinos. Vómito com libido. Peito com peito. E ao nosso lado estarão as andorinhas azuis, e nós deitamos numa cama de lótus vermelhas, na nossa deambular ressaca, um sobre o outro. Os teus pêlos contra o meu desejo e teimosia de te querer comigo todos os dias. Um dia as nossas escovas de dentes estarão no mesmo copo, assim como as serpentes trocam de pele. E eu estimulo-me deliciosamente, sobre estes lençóis brancos. Janela aberta que recebe a luz dos candeeiros e ainda consigo ver nos lírios brancos, enquanto te escrevia todas estas notas, palavras, divagações. Para algumas moralidades insossas pode parecer pouco sincero, mas nós sempre fomos desprovidos de ideias pré-concebidas. E que importa isso quando temos o nosso barco?

Assim e aqui me masturbo, amor da minha vida




.mês de Junho.

(deixei-lhe esta nota, e ele colou-a ao lado de um preservativo com a meita de cravinho dele)"


.dela para e sobre ele

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